terça-feira, 29 de abril de 2008

Dependência de drogas: faltou não?

O que a falta de “nãos” durante a infância tem a ver com a dependência de drogas na adolescência e na idade adulta? Muita coisa! Embora existam vários outros fatores em jogo nesta questão – sociais, econômicos, culturais e psicológicos –, pode-se dizer que a intolerância à frustração é uma característica muito freqüente na personalidade de pessoas dependentes de drogas, e que tem suas raízes nos primeiros anos de vida.

Uma das coisas mais importantes – e difíceis – que uma criança precisa aprender já no começo da sua vida é que ela não vai poder fazer tudo que quer... Mas, ainda assim, vai sobreviver a isso. Deste modo, os adultos deveriam desde cedo ensinar as crianças a tolerar as pequenas, médias e grandes frustrações do dia-a-dia – aquele brinquedo que eu quero ter mas a mamãe ainda não pode comprar, aquela “arte” que o papai não me deixou fazer, aquele puxão no cabelo da vovó que ela não me deixou dar, o tempo chuvoso que não me permite brincar lá fora, o meu cachorrinho que morreu por mais que eu o quisesse perto de mim... Estes são alguns dos “nãos” do cotidiano de uma criança, com os quais ela terá de lidar para no futuro se tornar um adolescente capaz de compreender que os obstáculos que a vida nos impõe nem sempre impedem a nossa felicidade – alguns, ao contrário, nos ajudam a alcançar uma felicidade genuína e sem ilusões.

É muito comum que uma pessoa se torne dependente das drogas porque elas propiciam um estado alterado de consciência que a faz sentir-se “melhor”, “mais leve”, “mais feliz” – é a entrada em um mundo onde não existem “nãos”, frustrações ou problemas. É o mundo onde a criança quer viver... E que o adulto amadurecido sabe muito bem que não existe e é pura fabricação de um cérebro quimicamente alterado. Quem não aprendeu a tolerar os “nãos” da vida achará a realidade insuportável, e as drogas ajudam essa pessoa a “fugir” por alguns momentos desta realidade – ainda que cobrando depois um preço muito caro por isso.A criança que aprender desde cedo que as coisas não são do jeito que ela quer que seja e que problemas são resolvidos quando os encaramos de frente e não quando fugimos dele terá uma probabilidade muito menor de, no futuro, recorrer às drogas para alterar sua percepção do “mundo real”, pois ela saberá encontrar uma forma mais sadia e eficaz para tornar sua vida melhor.

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