segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Para que serve o estresse?

Estresse é um conjunto de reações físicas e mentais que ocorrem quando estamos em alguma situação onde nossa sobrevivência está em jogo. A função destas reações (batimentos cardíacos mais acelerados, maior agitação motora, aumento da capacidade de atenção, supressão da fome, do sono e da dor, etc.) é nos preparar para reagir diante de uma situação de perigo, enfrentando-o ou fugindo dele. As reações do estresse estão presentes em boa parte dos seres vivos, ajudando-os a lutar pela sua sobrevivência – imaginem como seria muito mais difícil para uma zebra escapar de ser comida por um leão se não existisse o estresse!

Mas, se o estresse foi criado pela Natureza, então por que o ser humano sofre e adoece tanto por causa dele? Porque, devido ao modo de vida extremamente complexo e sofisticado que criamos em relação ao dos outros animais, tornamos a nossa vida muito mais trabalhosa que a deles, e por isso a todo momento e por toda a parte temos a nossa sobrevivência ameaçada com dívidas, risco de desemprego, falta de dinheiro, condições de alimentação e trabalho que ameaçam nossa saúde ou daqueles com quem nos importamos, problemas jurídicos, obrigações intermináveis... Não é o estresse em si que adoece o homem: ele apenas está nos indicando as situações em que nossa integridade física e mental está em perigo. Podemos até dizer que o estresse é nosso “amigo”, por nos fazer estes alertas antes que seja tarde demais. Os problemas acontecem principalmente quando ignoramos estes sábios alertas do nosso organismo por teimosia ou pura necessidade.

Como o estresse é importante na nossa vida, então não devemos “acabar com ele”, mas sim aprender a administrá-lo e a entender as mensagens que ele nos passa (“Perigo, faça alguma coisa!”; “Você está indo longe demais!”). Se possível devemos eliminar a causa do estresse e não apenas os seus sintomas, e quando isso não está ao nosso alcance é aconselhável ao menos procurarmos desenvolver uma visão diferente do problema, concentrando-se mais naquilo que se aprendeu ou se pode aprender com ele e, assim, evitar novos problemas.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

O que é autoestima?

Se separarmos a palavra autoestima nas duas palavras que a formam, encontraremos auto, que quer dizer “si mesmo”, e estima, que quer dizer “valor, avaliação, apreciação, apreço e afeição”. Portanto, podemos concluir que autoestima significa o valor, a avaliação, o apreço e a afeição por si mesmo.

Ao contrário do que muita gente pensa, ter uma elevada autoestima não tem nada a ver com se achar “o máximo”, perfeito e sem nenhum defeito. Quem tem uma elevada autoestima sabe que tem defeitos e qualidades, como todos os outros seres humanos. E para termos consciência de nossas qualidades e defeitos, precisamos primeiro nos conhecer. E como é que nós conhecemos a nós mesmos? Através da observação.

Vamos imaginar uma pessoa que se ache “inútil”, que “não faz nada direito”. Podemos propor a ela que se observe por alguns dias, para ver se isso é verdade mesmo. Então talvez ela perceba algumas coisas: se essa pessoa for, por exemplo, a mãe de uma criança pequena, ela pode “descobrir” que leva seu filho em todas as suas atividades (escola, cursos, passeios...), sem faltas ou atrasos. Pode “descobrir” também que, apesar da correria do dia-a-dia, consegue administrar muito bem sua casa e seu dinheiro, e que está sempre atenta às necessidades de sua família. Então ela também “descobrirá” que esta história de se achar “inútil” não passava de uma ideia sem nenhum fundamento lógico sobre si mesma...

Existem muitas pessoas ao nosso redor, talvez você mesmo(a) que esteja lendo este texto, que têm ideias falsas sobre si (“Não sou inteligente”, “Não sou capaz”, “Sou feio(a)”, “Ninguém gosta de mim”, etc.). Porém, se estas pessoas se derem a oportunidade de se observarem e se conhecerem, é bem provável que constatem que estas ideias eram apenas ideias sobre si, e não fatos. A chave da conquista de uma elevada autoestima está, portanto, na nossa capacidade de distinguir o que são ideias e o que são fatos a nosso respeito.

terça-feira, 29 de abril de 2008

O maior erro da comunicação

“Ninguém me entende”; “por que Fulano não me ouve?”; “parece que eu falo para as paredes!”... Quantas vezes ouvimos certas pessoas fazerem estas reclamações sobre aqueles que as cercam? Elas nos fazem até concluir que são injustiçadas, exploradas, ignoradas pelos outros, sempre tão egoístas e insensíveis...

O que muitas dessas pessoas não sabem é que existe uma espécie de “regrinha básica” que é a base para uma comunicação eficaz entre duas pessoas. É uma regra simples, mas espantosamente ignorada: procure sempre se colocar no lugar da pessoa com quem você fala e assim você poderá obter mais dela.

Ninguém irá fazer o que você deseja, passar a pensar do seu jeito, comprar o seu produto ou serviço apenas porque você quer: para conseguir convencer alguém a qualquer uma dessas coisas, é indispensável que você mostre a essa pessoa o que ela vai ganhar com isso. Por exemplo: há pais que “imploram” para os filhos não fazerem bagunça com os brinquedos porque “eu não gosto de bagunça”. Ora, e daí que você não gosta de bagunça? E se seu filho gostar, como fica? Uma alternativa que pode dar melhores resultados é você lhe dizer que quando ele guarda os brinquedos ele não corre o risco de tropeçar neles e acabar quebrando-os – ou seja, mostrar a ele que ele vai ganhar alguma coisa com isso; os brinquedos dele não vão quebrar por esse motivo e assim eles podem durar mais.

Portanto, da próxima vez em que você estiver tentando convencer alguém a fazer algo que você acha ser o mais adequado, coloque-se por um momento no lugar dessa pessoa e pense: “Por que seria bom para ela fazer/pensar/comprar isso?”. Então, comece a falar com essa pessoa tendo ela como o foco da conversa, e não você. A grande maioria das pessoas, observe, se coloca como o centro das conversas que têm com os outros – “Ah, porque eu isso...”; “Eu acho errado você fazer isso porque...”; “Faça isso por mim”; “Você não pensa no meu lado?”, etc. – e, portanto, quem faz o inverso e se ocupa mais em ouvir e entender o seu interlocutor costuma conseguir muito mais resultados dele.

Não premie o mau comportamento do seu filho

Ao tentar fazer com que seu filho pare de ter certos comportamentos (fazer birra, chorar, gritar, ficar agressivo...), preste muita atenção ao tipo de atitude que você vai tomar. É muito comum que os adultos façam “agrados” como uma tentativa de fazer as crianças pararem com aquele comportamento inadequado, como dar um doce, um brinquedo novo ou mesmo dar mais atenção e carinho.

O que há de errado neste tipo de “solução”? Se você dá a uma criança algo de seu interesse depois que ela tem um mau comportamento, o que ela vai acabar aprendendo? Que fazer birra, manha, chorar e gritar é vantajoso para ela, pois em seguida ela ganhará algo que ela considera bom. Se além disso a criança não recebe o devido reconhecimento quando se comporta bem, a criança concluirá que comportar-se mal é que “compensa”.

Portanto, procure sempre adotar uma postura inversa em relação ao seu filho, premiando o que ele faz de bom e não de inadequado. Comece a prestar atenção também nas suas reações quando ele se comporta bem – se você nada lhe diz ou faz, passando-lhe provavelmente a impressão de que não se importou com isso, está na hora então de você começar a lhe dar um bom motivo para isso, como elogios, gestos e palavras carinhosas ou um momento fazendo juntos alguma coisa que ele gosta.

As crianças frente às dificuldades da vida

A história começa mais ou menos assim: Joãozinho, cinco anos, surpreende sua mãe chorando no quarto, escondidinha e muito sentida. Só de vê-la triste ele fica também, e vai lhe perguntar: “Mãe, o que aconteceu?”. Esta rapidamente enxuga as lágrimas e desconversa: “Nada, nada, filho... Vai lá brincar, vai!”. E lá vai o Joãozinho brincar, sem entender nada... E achando que chorar e ficar triste não deve ser uma coisa muito boa!

Agora Joãozinho está com dez anos e brigou com um colega da escola durante um jogo de futebol. Teve lá sua parcela de culpa no episódio, mas chega em casa furioso e reclamando do Zezinho para o pai. Este também fica furioso com o Zezinho e promete para o filho que amanhã mesmo irá reclamar com a diretora da escola sobre tamanho “atrevimento”, e logo em seguida diz: “Esquece disso... Vamos passear no shopping, que tal?”. E Joãozinho, que nesses momentos nunca sabe o que fazer com suas raivas e frustrações, prontamente aceita o convite.

Cinco anos depois, Joãozinho é levado pelos pais para o consultório de um psicoterapeuta especializado em atender “adolescentes-problema”. A mãe, toda chorosa, começa com as queixas: “Ele não liga para ninguém, é um insensível!”. E o pai continua: “Ele tem ‘pavio curto’, não tem limites, acha que sempre tem razão, que o mundo gira em torno dele”...

Esta história, exagerada de propósito, ilustra bem o que pode acontecer com uma criança quando em sua criação não lhe é dado espaço para vivenciar o sofrimento, as frustrações e outros sentimentos difíceis da vida. Quando amamos muito uma criança (um filho, um parente, um aluno), queremos o seu bem e que nada de mal lhe aconteça; porém, por vezes exageramos neste zelo, não lhes ensinando a experimentar a raiva, a dor, a tristeza, o ciúme, a indignação, etc. e a lidar com tudo isso de uma forma adequada – o que mais tarde poderá lhe custar muito caro.

Mesmo os adultos têm muita dificuldade com todos estes sentimentos, e a maioria deles gostaria muito que a vida só tivesse alegrias; entretanto, sabemos que isso é impossível. Se desde o início da sua vida uma criança tiver a seu lado adultos que lhe dão o “direito” de vivenciar sentimentos “ruins”, no futuro ela os aceitará como uma parte integrante da sua existência e saberá lidar melhor com eles.

Dependência de drogas: faltou não?

O que a falta de “nãos” durante a infância tem a ver com a dependência de drogas na adolescência e na idade adulta? Muita coisa! Embora existam vários outros fatores em jogo nesta questão – sociais, econômicos, culturais e psicológicos –, pode-se dizer que a intolerância à frustração é uma característica muito freqüente na personalidade de pessoas dependentes de drogas, e que tem suas raízes nos primeiros anos de vida.

Uma das coisas mais importantes – e difíceis – que uma criança precisa aprender já no começo da sua vida é que ela não vai poder fazer tudo que quer... Mas, ainda assim, vai sobreviver a isso. Deste modo, os adultos deveriam desde cedo ensinar as crianças a tolerar as pequenas, médias e grandes frustrações do dia-a-dia – aquele brinquedo que eu quero ter mas a mamãe ainda não pode comprar, aquela “arte” que o papai não me deixou fazer, aquele puxão no cabelo da vovó que ela não me deixou dar, o tempo chuvoso que não me permite brincar lá fora, o meu cachorrinho que morreu por mais que eu o quisesse perto de mim... Estes são alguns dos “nãos” do cotidiano de uma criança, com os quais ela terá de lidar para no futuro se tornar um adolescente capaz de compreender que os obstáculos que a vida nos impõe nem sempre impedem a nossa felicidade – alguns, ao contrário, nos ajudam a alcançar uma felicidade genuína e sem ilusões.

É muito comum que uma pessoa se torne dependente das drogas porque elas propiciam um estado alterado de consciência que a faz sentir-se “melhor”, “mais leve”, “mais feliz” – é a entrada em um mundo onde não existem “nãos”, frustrações ou problemas. É o mundo onde a criança quer viver... E que o adulto amadurecido sabe muito bem que não existe e é pura fabricação de um cérebro quimicamente alterado. Quem não aprendeu a tolerar os “nãos” da vida achará a realidade insuportável, e as drogas ajudam essa pessoa a “fugir” por alguns momentos desta realidade – ainda que cobrando depois um preço muito caro por isso.A criança que aprender desde cedo que as coisas não são do jeito que ela quer que seja e que problemas são resolvidos quando os encaramos de frente e não quando fugimos dele terá uma probabilidade muito menor de, no futuro, recorrer às drogas para alterar sua percepção do “mundo real”, pois ela saberá encontrar uma forma mais sadia e eficaz para tornar sua vida melhor.