terça-feira, 29 de abril de 2008

As crianças frente às dificuldades da vida

A história começa mais ou menos assim: Joãozinho, cinco anos, surpreende sua mãe chorando no quarto, escondidinha e muito sentida. Só de vê-la triste ele fica também, e vai lhe perguntar: “Mãe, o que aconteceu?”. Esta rapidamente enxuga as lágrimas e desconversa: “Nada, nada, filho... Vai lá brincar, vai!”. E lá vai o Joãozinho brincar, sem entender nada... E achando que chorar e ficar triste não deve ser uma coisa muito boa!

Agora Joãozinho está com dez anos e brigou com um colega da escola durante um jogo de futebol. Teve lá sua parcela de culpa no episódio, mas chega em casa furioso e reclamando do Zezinho para o pai. Este também fica furioso com o Zezinho e promete para o filho que amanhã mesmo irá reclamar com a diretora da escola sobre tamanho “atrevimento”, e logo em seguida diz: “Esquece disso... Vamos passear no shopping, que tal?”. E Joãozinho, que nesses momentos nunca sabe o que fazer com suas raivas e frustrações, prontamente aceita o convite.

Cinco anos depois, Joãozinho é levado pelos pais para o consultório de um psicoterapeuta especializado em atender “adolescentes-problema”. A mãe, toda chorosa, começa com as queixas: “Ele não liga para ninguém, é um insensível!”. E o pai continua: “Ele tem ‘pavio curto’, não tem limites, acha que sempre tem razão, que o mundo gira em torno dele”...

Esta história, exagerada de propósito, ilustra bem o que pode acontecer com uma criança quando em sua criação não lhe é dado espaço para vivenciar o sofrimento, as frustrações e outros sentimentos difíceis da vida. Quando amamos muito uma criança (um filho, um parente, um aluno), queremos o seu bem e que nada de mal lhe aconteça; porém, por vezes exageramos neste zelo, não lhes ensinando a experimentar a raiva, a dor, a tristeza, o ciúme, a indignação, etc. e a lidar com tudo isso de uma forma adequada – o que mais tarde poderá lhe custar muito caro.

Mesmo os adultos têm muita dificuldade com todos estes sentimentos, e a maioria deles gostaria muito que a vida só tivesse alegrias; entretanto, sabemos que isso é impossível. Se desde o início da sua vida uma criança tiver a seu lado adultos que lhe dão o “direito” de vivenciar sentimentos “ruins”, no futuro ela os aceitará como uma parte integrante da sua existência e saberá lidar melhor com eles.

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